Durante décadas, os cientistas procuraram descobrir as causas do envelhecimento prematuro. É ponto pacífico que o diabetes é uma forma reconhecida de aceleração do envelhecimento, o que constitui uma surpresa para muitas pessoas, inclusive eruditas. Vale registrar que a expectativa de vida para os diabéticos é de quatro a oito anos menos do que para os não-diabéticos. É ponto pacífico que o diabetes e o envelhecimento propriamente dito compartilham de dois processos lesivos que comprometem o organismo: a glicação, que produz danos estruturais na função das proteínas, ou seja, as pedras angulares que formam os órgãos e tecidos, e na produção do estresse oxidativo, que indica o aumento da atividade de radicais livres, que também danifica moléculas e tecidos. Aliás, muitos sinais e sintomas que ocorrem no diabetes também costumam ocorrer ao longo do envelhecimento, e que incluem as seguintes patologias: a) doenças cardiovasculares, tais como ataques cardíacos, falhas da circulação periférica nas pernas, arteriosclerose e aterosclerose nos vasos cerebrais; b) aumento da ocorrência de certos cânceres (pâncreas, cólon e fígado; problemas da visão, incluindo as cataratas, glaucoma e degeneração da mácula; c) disfunção erétil; presbiacusia ou dificuldade de audição dos idosos; perda de memória ou outros distúrbios cognitivos; perda da elasticidade e flexibilidade da pele e de outros tecidos. Ao saber que a glicação é uma das conseqüências mais graves do diabetes, muitos pacientes ficam surpresos e indagam se é alguma descoberta científica nova. A glicação é conhecida desde 1912 e as suas conseqüências têm sido estudadas com profundidade desde os anos 80 do século passado. Aliás, a glicação consiste em uma série de reações químicas não-enzimáticas, ou seja, que não necessitam enzimas para a sua ocorrência envolvendo a glicose, as proteínas e certos lipídios, e gerando substancias tóxicas denominadas de AGE, ou advanced glycation end products e ALE, ou advanced lipoxidation end products, segundo a terminologia internacional em inglês. Por falar nisso, quando fazemos torradas produzimos reações do tipo glicação que produzem a coloração escura da torrada aquecida em temperaturas elevadas. Isso também ocorre no preparo de batatas fritas e churrasco ou salmão preparado na grelha. Os níveis de AGE e ALE aumentam à medida em que progride o envelhecimento, e a pesquisa recente tem apontado o papel relevante das denominadas glicotoxinas, no envelhecimento, assim como nas doenças correlatas do diabetes, cardiopatias, doenças renais, câncer, doença de Alzheimer e neuropatias diabéticas. As denominadas glicotoxinas aumentam acentuadamente em pacientes portadores de glicemia alta na fase de síndrome metabólica com obesidade, e em pré-diabéticos e diabéticos. O acúmulo das glicotoxinas ocorrem nos glomérulos renais, levando à insuficiência renal, na retina que pode levar à cegueira e nas coronárias onde além de problemas agudos pode suscitar uma inflamação crônica, além de neuropatias afetando os nervos periféricos. Voltaremos ao assunto para discutir a prevenção e tratamento. Por hoje, é só.
Dr. Arnoldo Velloso

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